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Vida Saúde

Revista da FUNDAFFEMG

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Um estudo realizado recentemente com adolescentes entre 15 e 18 anos pelo Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas mostrou que 72,97% apresentavam níveis consideráveis de stress. Na avaliação de Luiz Ricardo Vieira Gonzaga, psicólogo responsável pela pesquisa, “a adolescência é uma fase susceptível ao stress e o desencadeamento e agravamento de sintomas dependerão das estratégias de enfrentamento que o indivíduo utilizará para readaptar-se. O jovem depara-se com inúmeras variáveis que influenciam no seu desenvolvimento sociocognitivo que exigirá dele uma demanda interna alta (autocontrole, habilidade de resolução de problemas, dentre outros). Uma dessas variáveis estressoras seria o vestibular que é apontado pelos adolescentes como um momento de transição para o ensino superior. Essa fase exerce uma pressão no adolescente que se vê acometido por distorções cognitivas referentes à capacidade intelectual, ao medo do fracasso, à escolha mal sucedida etc” .

Tatiana Marques Souza Lima, 16 anos, já começa a se preparar para pressão que está por vir. No segundo ano do Ensino Médio, ela planeja abdicar de seus momentos de lazer e aumentar a carga de estudo. “A primeira coisa que eu queria fazer é mudar de escola. Consequentemente iria ter que passar umas cinco horas do meu dia estudando mais. Esse ano já vou fazer o ENEM como experiência, mas ano que vem está nos meus planos também fazer um cursinho pró Enem para que eu tenha uma preparação melhor.” A psicóloga Maria Elisabeth Caetano, doutora pela UNICAMP, também questiona a experiência de vida dos adolescentes neste momento de escolhas: “O jovem de 17 anos hoje tem uma vivência muito diferente do de décadas atrás. A questão da universidade, em especial na classe média e alta, as condições de vida que esse adolescente tem não possibilitam viver experiências. É uma juventude que estuda muito: levanta seis horas da manhã, vai para a escola, fica por lá até 4 ou 5 horas da tarde, ou vai para um curso extra, porque hoje se precisa fazer inglês, saber informática… E com isso, ele muitas vezes nem sabe o que é tirar um prato da mesa, lavar uma louça, cuidar do cachorro, ter um cuidado com os pais, organizar o próprio quarto, consertar o que deu defeito. Ele se priva inclusive da vida social, porque ano do vestibular é ano que tem que estudar. Então a imaturidade em relação à escolha, eu acredito que seja muito mais por falta de vivência do que pela idade em si. Nossos adolescentes hoje têm muita informação, mas não sabem administrar a própria vida”. Justamente pensando em proporcionar a sua filha, Tatiana, uma nova vivência, o Auditor Fiscal José Luiz de Souza Lima, matriculou sua filha, Tatiana, em um colégio estadual. “Em termos de experiência de vida está sendo superválido, porque deu a possibilidade dela presenciar duas realidades. E eu sempre tive comigo que quando se vive coisas diferentes, mesmo que represente alguma dificuldade, isso acaba te enriquecendo”, conta José Luiz que agora já estuda a possibilidade de atender a vontade da filha de retornar a uma escola particular ou ainda de oferecer um reforço complementar.

COMO OS NOSSOS PAIS

Com tantas opções, muitas vezes os adolescentes se veem diante de uma encruzilhada digna dos livros de Alice no País das Maravilhas. Aqui, a ponderação de Lewis Carol tem o mesmo peso e valor: “Quando não se sabe para onde vai, qualquer lugar serve”. Nesse aspecto, o auditor fiscal Robert Torres Ruas e sua esposa Milvia, pais de Ully, de 22, e Diego, de 15, vivem duas realidades em casa: “Tem meninos que desde novos já sabem o que querem ser, seja uma profissão específica, ou se espelhar no pai. O Diego, desde pequenininho dizia que ia ser fiscal. Depois ele teve a fase ‘vou ser jogador de futebol’ e agora quer desenvolver jogos. Pode ser que daqui a dois anos ele mude de ideia. É um período de transição no qual os adolescentes não sabem na verdade o que querem. Eu não sabia o que eu queria nessa fase! Queria sair, me divertir… Já a minha menina sempre foi mais centrada. Ela terminou o segundo grau, foi a uma palestra sobre profissões, escolheu arquitetura, fez o vestibular e passou. Não se arrependeu em momento algum. Eu acredito que o Diego vai ter mais dificuldade de escolha”, conta Milvia. No processo de escolha, o jovem leva em conta diversas variáveis que passam pelas habilidades, formação, mercado de trabalho, expectativa dos pais, ofertas de cursos, recursos financeiros e, principalmente, na visão do pesquisador Luiz Ricardo, a perspectiva de tornar-se adulto: “O adolescente vivencia tempos turbulentos nesta fase de escolha profissional. A perspectiva do mercado de trabalho, que exige a demanda de indivíduos competitivos, habilidosos e competentes incita o jovem a desenvolver a sua escolha profissional de acordo com o seu nível de conhecimento acerca da profissão, da sua adaptabilidade para a escolha e a realização pessoal e financeira que poderá ter futuramente. Por isso, a escolha torna-se um momento difícil para o jovem, pois a tomada de decisão vem acompanhada da consciência do papel que ele irá desempenhar como profissional na sociedade”, argumenta. A paciência e o apoio dos pais neste momento pode ser um porto seguro, com o cuidado de assumir uma posição neutra diante das escolhas do jovem. “A influência da família na escolha profissional acontece basicamente desde a gestação. Quando você concebe um filho, já começa a sonhar com o seu futuro e, de acordo com suas expectativas, os seus desejos de que ele seja de um jeito ou de outro, mesmo que não de uma forma consciente, você influencia. Isso acontece através dos comentários, dos brinquedos e atividades que se oferece a essa criança além, é claro, das possibilidades financeiras e culturais que a família tem para proporcionar vivencias diferenciadas. Passa também pelos avós que, muitas vezes veem no neto a esperança de dar continuidade aos negócios. A influência da família é muito grande na escolha final da profissão. Eu ouço muito no meu consultório os pais dizerem ‘meu filho está aqui pra escolher o curso que ele quiser’ – isso é uma meia verdade, porque é o curso que ele quiser dentro de alguns cursos que os pais julgam ser interessantes. Usualmente, profissionais da exatas, se o filho do sexo masculino escolhe uma profissão de humanas, eles ficam arrepiados ‘que futuro ele vai ter se fizer sociologia?’ ‘o que se faz com um curso de antropologia?’, não enxergam as peculiaridades e importância de profissões que não fazem parte de sua vivência”, alerta a psicóloga Maria Elisabeth Caetano.

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Conheça o profissional

Dr. Luiz Ricardo Vieira Gonzaga CRP 06/79399

Terapeuta Cognitivo Comportamental

Mestre (PUC-Campinas, 2011) e Doutor em Psicologia (PUC-Campinas, 2012-2016). Licenciado e Graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 2003, 2004). Especialista em Psicologia Clínica (USP, 2006).

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