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Psicólogo e coachs profissionais dão dicas sobre como organizar a rotina de estudos. Planejamento e equilíbrio entre livros e lazer são o segredo para o melhor desempenho

Jairo Macedo-Especial para o Correio

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/especial-enem-2017/2017/09/01/especial-enem-noticias,622843/prova-sem-enlouquecer.shtml

É preciso planejamento e autocontrole. Essa é a máxima defendida por especialistas quando o assunto é a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nada de deixar a pressão, o estresse o volume de conteúdos atropelar a rotina de estudos e desequilibrar a balança entre esforço e descanso. O psicólogo Luiz Ricardo Vieira Gonzaga, autor dos livros Medo de provas e como lidar com stress e ansiedades e O estresse da escolha profissional em estudantes, afirma que a maior dor de cabeça dos candidatos do Enem é a dificuldade de administrar o tempo. “Organizar a rotina passa pela autodisciplina e pela regulação de atenção, áreas em que jovens ainda estão se desenvolvendo”, afirma. Em pesquisa com 37 estudantes do ensino médio entre 16 e 18 anos, Gonzaga constatou que 72% deles demonstravam sintomas psicológicos de estresse em função do pensamento recorrente e invariável nos estudos.

Não precisa ser sempre assim. O descanso físico e o lazer devem ser levados, de acordo com o psicólogo, como mecanismos estratégicos de compensação. Ele explica: “Recomendo que o aluno tenha em mente quantas horas por dia trabalhará em casa e, uma vez que a meta diária seja alcançada, permita-se pequenos prazeres recompensatórios”. Desse modo, uma longa tarde de exercícios de português pode ser recompensada com um bom filme ou, quem sabe, um passeio leve para curtir o fim do dia com amigos. Gonzaga divide o tempo de preparação em três etapas: antes, durante e após a prova. Parece simples, mas ele credita a essa organização mental tanto poder quanto à organização espacial do local de estudos ou à disciplina no tempo gasto diariamente com a preparação.

Como as provas serão em pouco mais de dois meses, o candidato precisa colocar as atividades em perspectiva. “Deve-se ter em mente que, diferentemente do que é pregado por aí, sua vida não depende dessa avaliação. Essa é apenas uma das primeiras provas de fogo da vida adulta, não a única”, afirma. Concentrando-se no melhor que pode fazer e relembrando como alcançou sucessos anteriores, o candidato pode relativizar a ansiedade do momento e estudar com mais calma.  Além disso, o psicólogo sugere exercícios cotidianos de mentalização, em que o aluno pode se imaginar cumprindo cada uma das etapas do processo, desde encontrar sossego para revisar conteúdos depois das aulas até visualizar e simular o dia ideal de prova (por exemplo, chegando ao exame com bom humor e conseguindo fazer boa divisão de tempo para resolver cada questão).

“Tento reservar ao menos duas horas de exercícios de conteúdo diários em casa, mas é difícil porque logo vem a necessidade de organizar seminários, fazer atividades extraclasse e se preparar para as provas da escola”, conta Lorrany Ramos, 17, secundarista do Centro de Ensino Médio Setor Leste.  A jovem colabora ainda no trabalho do pai e faz curso de inglês. Para adolescentes como Lorrany, Luiz Ricardo Vieira Gonzaga recomenda não se prender à rigidez dos horários de estudos, mas, sim, otimizar o pouco tempo disponível. “Sempre defendo que não está em questão exatamente a quantidade de horas, mas a regularidade com que o aluno se dedica aos livros e a eficiência de se permitir intervalos. Esses são essenciais não só pelo desgaste físico, mas pelo desvio de atenção, já que a nossa mente precisa descansar tanto quanto nosso corpo”, explica o psicólogo. Gonzaga observa que, a cada duas horas, o aluno deve reservar pelo menos 10 minutos para repouso e distração.

Planejar é descansar

A empresa de coaching de Alexandre Bento presta serviço para mais de 150 alunos do Distrito Federal. Na aplicação do método dele, o coach nota que toda a carga emocional sentida pelos candidatos ao Enem parte da falta de planejamento. “Ouço todo dia candidatos dizerem que dedicam 14 horas diárias aos estudos, mesmo assim, têm a sensação de que não aprenderam nada”, afirma. “Estudar demais não é necessariamente estudar bem”, observa. O segredo, acredita o especialista em planejamento, reside em uma estratégia básica erguida sobre três pilares: foco, gestão de tempo e plano de estudos.

“O ideal é um local reservado e calmo, um horário fixo de inicio e fim das atividades e ainda uma ‘rota de fuga’ para descansar”, avalia. Nesta reta final, o candidato do Enem deve respeitar essas prerrogativas na rotina diária para que, a partir delas, possa manter o foco no que tem mais dificuldade. Além disso, jamais deve abrir mão de pelo menos um dia pleno de descanso por semana.  A certeza de um período calmo em mente traz ao aluno menos ansiedade. “É comum, pela falta de planejamento, a pessoa estar ansiosa para estudar no momento que deveria ser de descanso e vice-versa”, esclarece Alexandre Bento.

Como ficar off-line

Reclamação recorrente dos pais com filhos em vias de prestar Enem e vestibulares, o uso de celular e redes sociais preocupa pelo excesso de estímulos e pela dispersão causada na mente dos jovens. Nesse caso, o psicólogo Luiz Ricardo Vieira Gonzaga pondera que não é necessário culpar os aparelhos eletrônicos e a internet, mas saber usá-los de modo disciplinado. “Isso faz parte dessa geração, não tem como tirar o celular da mão dos jovens.  Ao contrário, deve-se trabalhar isso no campo da estratégia e do gerenciamento de tempo”, pondera. Mais uma vez, o recurso de compensação entra em campo: após um dia todo com o celular desligado para pensar somente em matemática, alguns instantes on-line podem servir como prêmio pelo esforço do candidato.

Assim, de quebra, é possível descansar a mente para a próxima jornada dentro dos livros. Coach e coordenador do método Tríade da Aprovação, especializado em acompanhamento e supervisão de estudos,  Alexandre Bento sugere o uso da técnica Pomodoro, que consiste em alternar 25 minutos de intenso estudo off-line com cinco de descanso e relaxamento (há aplicativos e sites especializados nessa marcação do tempo). Após quatro desses ciclos, o aluno tem direito a um descanso maior, em que pode consultar o celular e aliviar um pouco a sensação tão comum de “perder” algo por não estar conectado.

Foco e objetividade

Consultor de carreiras e negócios, Emerson Weslei Dias auxilia diariamente profissionais com longo currículo a repensarem carreiras. São adultos procurando novos horizontes através de concursos ou profissionais insatisfeitos com a rotina de trabalho, à procura de algo a mais ali mesmo onde estão ou em áreas correlatas. Quando se trata de adolescentes como os que estão em vias de prestar o Enem, contudo,  o coach enxerga que a melhor gestão se inicia em um passo anterior. “Os jovens têm os mesmos dilemas que os adultos, mas com muito menos experiência pregressa. É uma etapa da vida de descoberta ainda, não de reciclagem”, afirma.

Para não se perder em ansiedade, o autor da série de livros O Inédito Viável (focada em liderança, gestão de tempo e inteligência emocional) propõe aos jovens repensar sempre a forma de gerenciar o tempo e concentrar a energia no que apresente indícios de retorno mais palpáveis. Administrar a rotina de estudos envolve o paradoxo de que “disciplina é liberdade, como na antiga canção de Renato Russo”, diz Weslei Dias.  “Disciplina, aqui, eu coloco no sentido de traçar um plano claro de atividades e segui-lo com precisão e autodeterminação. Quando eu gerencio minha agenda, tenho a liberdade de dizer sim ou não para o que vem. Não estou seguindo o compromisso de outro, mas somente a minha, com toda a particularidade que cada indivíduo carrega”, explica. Uma vez que o planejamento bem executado começa a produzir frutos, a liberdade vem na forma de pequenas concessões de lazer que o candidato do Enem pode se permitir.

Muitos candidatos ao Enem, vestibular e provas de concurso em geral chegam ao coach insatisfeitos não com o volume de trabalho realizado, mas com a qualidade do que é produzido. Não é difícil encontrar alguém dedicado, disposto a estudar 12 horas, insatisfeito com os resultados. Aquela sensação de, sem foco, correr uma maratona sem sair do lugar. O que falta nessas pessoas, acredita ele, é o foco que ligue as atitudes empregadas aos objetivos almejados. O plano de estudos perfeito envolve dividir por horário cada matéria e, uma vez entendido o conteúdo, passar ao próximo sem se esquecer de que deve retornarcom frequência ao que foi aprendido. “Sem preestabelecer uma rotina focada, o candidato não consegue retornar ciclicamente à etapa de revisão, perdendo de vista aquilo que tinha como certo em mente.”

Descansar é sinal de produtividade também

Emerson Weslei Dias é mais um que sublinha a necessidade de equilíbrio entre estudos e descanso, tendo o planejamento como mediador entre os dois. Quanto mais (e melhor) se trabalhou, mais tempo livre com qualidade se tem. São o lazer e o sono desfrutados com a calma de quem sabe que os merece. “Se não sei se atingi minha meta, não tenho a certeza de um descanso tranquilo”, diz. Sem esses intervalos de relaxamento, o corpo e a memória não se recompõem devidamente. “Dormir bem também é um item de produtividade, quanto mais em dia com o sono, mais produtivo você é.  Varar noites em claro, enfurnado nos livros, é sinal de improdutividade.” (JM)

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Conheça o profissional

Dr. Luiz Ricardo Vieira Gonzaga CRP 06/79399

Terapeuta Cognitivo Comportamental

Mestre (PUC-Campinas, 2011) e Doutor em Psicologia (PUC-Campinas, 2012-2016). Licenciado e Graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 2003, 2004). Especialista em Psicologia Clínica (USP, 2006).

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